A natureza da medicação da informação sob uma visão fenomenológica

Abstract

A ciência da informação tem se preocupado com sua atuação enquanto mediadora da informação. Assim, novos estudos no âmbito científico têm se desenvolvido na área em busca de caracterizar e diagnosticar aspectos de atuação e desenvolvimento da mediação na atuação de seus profissionais. As discussões que abarcam o uso do termo mediação e sua aplicabilidade crescem, porém ainda de forma inconsistente, mas vislumbram-se conquistas no que tange à clarificação destas discussões e uma abordagem cada vez mais consciente tem um possível impacto social. (Almeida Júnior, 2015; Gomes, 2014). De maneira prática, Maia et al. (2011), por exemplo, abarcam aspectos da mediação no trabalho com pessoas com deficiência visual, iniciando discussões quanto ao bibliotecário atuando “além da utilização de técnicas e de tecnologias para inclusão social” na possibilidade de “oferecer um atendimento especializado, diferenciado a fim de potencializar o cidadão que há em cada indivíduo”. Este trabalho tem a intenção de abarcar uma forma de mediação ainda pouco explorada na CI: a mediação da leitura de mundo. A leitura de mundo pode ser definida como a leitura dos signos que o mundo nos apresenta. Os signos semióticos estão imersos e são a imersão do mundo – em sua plenitude existencial e representativa. Por isso, é possível encontrar em discussões semióticas contribuições significativas relacionadas ao âmbito da mediação, principalmente na abordagem da significação. É possível identificar, nessa cadeia de relacionamentos, que um ser humano estabelece na natureza relações com outros seres, fazendo-se assim um signo imerso nesse relacionar infinito apresentado por Peirce, onde se relaciona com diferentes representações e altera assim sua própria representação. (Peirce, 2005). Como os aspectos de mediação, mediação da informação, mediação de leitura de mundo, e leitura de signos são dependentes de diferentes aspectos sociais, culturais, históricos e geográficos, para discuti-los é interessante manter uma perspectiva que leve em consideração tais fenômenos. A fenomenologia traz a possibilidade de encontrar na subjetividade exposta em realidades complexas a objetividade que não pode ser separada do fenômeno, mas que, separada dele não deixa de ser axioma da relação estabelecida. A fenomenologia caracteriza, portanto, um norte que visa explorar fenômenos sem desconsiderar uma cadeia fenomenológica que o impacta. (Bello, 2006; Díaz, 1973; Husserl, 2006; Galeffi, 2000). Num cenário onde a mediação dentro da Ciência da Informação ainda não possui um aprofundamento teórico consistente quanto a sua natureza e amplitude, questiona-se: Qual a real natureza da mediação? Existe apenas uma natureza? É possível mediar uma leitura do mundo? É possível entender o impacto da leitura de mundo na construção do conhecimento? Observou-se a impossibilidade de seguir questionamentos como os previamente mencionados por não se ter claro o âmago envolvido na mediação e, assim, suas possíveis limitações. O que se busca, portanto, é um “ponto de vista” gnosiológico da mediação, para que se possa entender sua abrangência. Ressalta-se então neste projeto a principal problemática: Quando, como e em qual grau se inicia a mediação na vida das pessoas sob uma perspectiva fenomenológica? Esse esclarecimento se torna vital pois, a partir dele, é possível ressaltar os pontos desenvolvidos na atuação profissional do ato “intuitivo” de mediar. Neste trabalho o termo “intuitivo” foi utilizado com a intenção de mencionar a mediação utilizada superficialmente, ou seja, sem um desenvolvimento mais elaborado. Ao entender esse possível impacto profissional, pode-se buscar na mediação a resposta para seu desenvolvimento enquanto impulsionador social, constituindo uma ferramenta fortemente influenciadora. Seria ela então a forma, o caminho, de estabelecer atividades que visem impactar no que se assume ser o âmago do potencializador do desenvolvimento humano – seu desenvolvimento de leitura de mundo. Nessa perspectiva, para desenvolver habilidades de leitura de códigos (como a escrita por exemplo), há de se atrelar a esse ensino um contexto complexo, que nesta proposta envolve a leitura inicial que é realizada por todos – a leitura de mundo (Morin, 2005; Freire, 2011), que surge carregada de influências culturais, históricas e sociais. A proposta deste trabalho é entender como aspectos subjetivos como a leitura do mundo podem (ou não) ser mediadas entre diferentes grupos, em realidades e necessidades diferentes, a fim de encontrar a natureza, o âmago, do ato de mediar. Com a possibilidade de trazer clareza a esse aspecto intrínseco à mediação, buscar-se-á delinear um norte à mediação no âmbito profissional (para a Ciência da Informação propriamente). Ao compreender a possibilidade da mediação ser utilizada com impacto na leitura de mundo, e ao explorar a possibilidade de um melhor relacionamento entre mediador e grupos mediados (sempre visando a apropriação), vislumbra-se a possibilidade de encontrar insuficiências em processos educativos atuais (especificamente a mediação da leitura), abrindo assim novos questionamentos sobre o seu uso (da mediação) para o benefício da sociedade por possibilitar o entendimento da necessidade de grupos culturalmente sub representados, adaptando-se a forma de ensino em diferentes realidades. Porém, conforme discutido previamente, não é possível tecermos tais questionamentos e estudos enquanto não há uma clareza de aplicabilidade da mediação neste âmbito. Assim, os resultados obtidos poderão trazer luz quanto à importância da mediação e quais suas possibilidades de uso para a área no âmbito do proposto, qual seja, a inclusão de grupos culturalmente sub representados.